sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Cego e o Sol, por Su Tungp'o

Era uma vez um cego de nascença. Nunca tinha visto o sol e perguntava como ele era para as pessoas. Alguém lhe disse: “é como uma bandeja de latão”, e quando o cego, um dia, deu com uma bandeja pendurada, ouviu o som de metal e guardou-lhe como recordação do sol. Um dia, porém, tocaram sinos de bronze e o cego pensou que era o sol. Até que alguém lhe disse: “a luz do sol, na verdade, é como uma vela”. Um dia, o cego apalpou a vela e pensou que esta era a forma do sol. Assim, um dia encontrou um pedaço de bambu no chão e pensou tratar-se do sol. O Sol é muito diferente do sino ou do bambu, mas o cego não pode ver isso porque nunca viu o sol. Deus é muito mais difícil de ver do eu o sol, e por isso os homens são com o cego. Ainda que vocês façam comparações, exemplos e tratados, Deus será como o sol para o cego, parecido com uma bandeja, com um sino ou um bambu. Sempre imaginaremos uma coisa, esquecendo de outra. Assim, os homens se afastam cada vez mais da verdade, dando lhe aparências através de nomes. Todos estes enganos são tentativas de compreender Deus.

sábado, 18 de abril de 2009

Idéias Íntimas, pt XII, por Álvares de Azevedo

Aqui sobre esta mesa junto ao leito
Em caixa negra dois retratos guardo:
Não os profanem indiscretas vistas.
Eu beijo-os cada noite: neste exílio
Venero-os juntos e os prefiro unidos...
Se acaso um dia,
Na minha solidão me acharem morto,
Não os abra ninguém. Sobre meu peito
Lancem-os em meu túmulo. Mais doce
Será certo o dormir da noite negra
Tendo no peito essas imagens puras.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

por Orpheo

Quando vejo reluzente
Sua pele em minha mente
Tão pálida quanto nos livros

Quando vejo seu sorriso
O que não saiu no meu rabisco
Seus cabelos tão dourados

Quando vejo suas caras
Tantas quais já sei de cor
No momento em que te calas
É quando eu fico sem voz

Lembrança dos Quinze Anos, por Álvares de Azevedo

Nos meus quinze anos eu sofria tanto!
Agora enfim meu padecer descansa...
Minh'alma emudeceu, na noite dela
Adormeceu a pálida esperança!

Já não sinto ambições e se esvaíram
As vagas formas, a visão confusa
De meus dias de amor, nem doces voltam
Os sons aéreos da divina Musa!

Porventura é melhor as brandas fibras
Embotadas sentir nessa dormência...
E viver esta vida... e na modorra
Repousar-se na sombra da existência!

E que noites de sôfrego desejo!
Que pressentir de uma volúpia ardente!
Que noites de esperança e desespero!
E que fogo no sangue incandescente!

Minh'alma juvenil era uma lira
Que ao menor bafejar estremecia...
A triste decepção rompeu-lhe as cordas...
Só vibra num prelúdio d'agonia!

Quanto, quanto sonhei! como velava
Cheio de febre, ansioso de ternuras!
Como era virgem o meu lábio ardente!
A alma tão santa! as emoções tão puras!

Como o peito sedento palpitava
Ao roçar de um vestido, à voz divina
De uma pálida virgem! ao murmúrio
De uns passos de mulher pela campina!

E como t'esperei, anjo dos sonhos,
Ideal de mulher que me sorrias,
E me beijando nesta fronte pálida
A um mundo belo de ilusões me erguias!

O meu peito era um eco de murmúrios...
De delírio vivi como os insanos!
Nos meus quinze anos eu sofria tanto!
Ardi ao fogo dos primeiros anos!

Agora vivo no deserto d'alma...
Um mundo de saudade ali dormita...
Não o quero acordar... oh! não ressurjam
Aquelas sombras na minh'alma aflita!

Mas por que volves os teus olhos negros
Tão langues sobre mim? Ilná, suspiras?
Por que derramas tanto amor nos olhos?
Eu não posso te amar e tu deliras.

Também a aurora tem neblina e sombras,
E há vozes que emudece a desventura,
Há flores em botão que se desfolham,
E a alma também morre prematura.

Repousa no meu peito o meu passado,
Minh'alma adormeceu por um momento...
Sou a flor sem perfume em sol d'inverno...
Uma lousa que encerra? — o esquecimento!...

Não me fales de amor... um teu suspiro
Tantos sonhos no peito me desperta!...
Sinto-me reviver e como outrora
Beijo tremendo uma visão incerta...

Ah! quando as belas esperanças murcham
E o gênio dorme e a vida desencanta,
D'almas estéreis a ironia amarga
E a morte sobre os sonhos se levanta...

Embora fundo o sono do descrido
E o silêncio do peito e seu retiro...
Inda pode inflamar muitos amores
O sussurro de um lânguido suspiro!

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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Line, por Orpheo

I wish it was for me when you gave every smile
I wish it was only for me that you cried
I wish I could find
I wish I could say
I wish I had something and enter your way

I wish you got sad when I was out of sight
I wish I could say: "Come on, dear, by my side"
Wish I was not alone
I wish I had you here
I wish my voice was the one you need hear

You know, my dear
How many words I wish I could say
I lost the count of the tears
Already slipped down from my face

'Cause all of the world
And all that we see
With all of the stars
I shine when you're 'round here

It's all in the ground
And that's what I've found
In all of my bounds
I need something up to sleeve

Go on, my dear
No have no pity my dear
I know you wish I was here
When the sun shows up

Take care, my dear
Of your heart don't let disappear
Your smile, your childish eyes
I know them all, love

You know, my dear
How many words I wish I could say
I've lost the count of the tears
Already slipped down from my face

'Cause all of the world
And all that we see
With all of the stars
I shine when you're 'round here

It's all in the ground
And that's what I've found
In all of my bounds
I need something up to sleeve

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por Orpheo

sábado, 4 de abril de 2009

A História de Orfeu

Havia um reino onde existiam dois príncipes e uma princesa. Ambos os príncipes estavam chegando à idade de ir até a sala real de armamentos e escolher uma arma para si. O príncipe mais novo era um discípulo fiel de seu pai, e não via a hora de escolher a sua e ser considerado um guerreiro, ter um futuro brilhante. O mais velho se chamava Orfeu, e apenas deixava o tempo passar, quando finalmente chegou para ele a idade de escolher as suas armas.

Seu pai, bastante animado com a ocasião, começou a mostrar a Orfeu as mais belas e poderosas armas, mas Orfeu não se interessara por nenhuma. Foi tocando nas armas, mas ele sabia que nada o provocava curiosidade, até que ele achou um belo arco, com sua corda extremamente esticada. Seu pai teve esperança de que ele gostasse da arma, mas ao invés de procurar uma flecha e testá-lo, Orfeu puxou suavemente a corda e soltou, percebendo que isso ressoava. Repetiu, ao ponto que parecia uma melodia. Seu pai ficou extremamente decepcionado. Orfeu poderia ter qualquer arma que ele quisesse, ele tinha uma imensidão de oportunidades que seu pai lhe concedera, mas ao invés de pensar em seu futuro, estava ali tocando um arco.

Orfeu andou por várias terras diferentes, tendo já adaptado seu instrumento, que agora tinha várias cordas em tons diferentes, e por onde ele passasse ele tocava e deixava as pessoas encantadas com seu som. Ele salvou vilareijos de feras hipnotizando-as apenas com suas melodias. Até que um dia conheceu Eurídice, que o encantou ainda mais que o arco.

Orfeu e Eurídice... Era tudo perfeito demais. Passeavam nos bosques enquanto Orfeu tocava sua Lira, Eurídice sorria e dançava, seus cabelos compridos esvoaçavam ao vento, seus olhos brilhavam, e Orfeu a amava mais do que a própria vida. Num desses passeios, estavando eles prestes a se casar, Eurídice foi mordida por uma cobra venenosa e faleceu.

Orfeu quase cedeu à loucura, mas decidiu descer até os Infernos atrás de Eurídice. Chegando lá, se dirigiu a Hades, ou Plutão, que concordou deixá-la voltar com ele após ouví-lo tocar. Mas, fora isso, havia uma condição: Enquanto ele estivesse subindo para a superfície, ela estaria indo atrás dele, mas ele não poderia olhar para trás, senão perderia de vez sua amada, sem outra chance.
Orfeu concordou.

Foi sendo conduzido de volta à superfície por um guardião, mas quando estava prestes a chegar, num ato de esquecimento, virou-se para se certificar se sua amada estava ali. No mesmo momento ela evanesceu em sua frente, com um adeus. Orfeu tentou voltar, mas o guardião não o deixou, ele então passou vários dias às portas do Hades chorando e compondo tristes canções, sem comer nem dormir.

Manteve-se alheio às outras mulheres, constantemente entregue à lembrança de seu infortúnio. As donzelas trácias fizeram tudo para seduzí-lo, mas ele as repeliu. Elas o perseguiram enquanto puderam, mas, vendo-o insensível, certo dia, excitada pelos ritos de Dionísio (*Baco*), uma delas exclamou: "Ali está aquele que nos despreza!" e lançou-lhe seu dardo. A arma, mal chegou ao alcance do som da lira de Orfeu, caiu inerme aos seus pés.

O mesmo aconteceu com as pedras que lhe foram atiradas. As mulheres, porém, com sua gritaria, abafaram o som da música e Orfeu foi então atingido e, dentro em pouco, os projéteis estavam manchados de seu sangue. As furiosas mulheres despedaçaram o vate e atiraram sua lira e sua cabeça ao Rio Orfeu, pelo qual desceram ainda tocando e cantando a triste música, à qual as margens do rio respondiam com plangente sinfonia. As Musas ajuntaram os fragmentos do corpo de Orfeu e os enterraram em Limetra, onde, segundo se diz, o rouxinol canta sobre seu túmulo mais suavemente que em qualquer outra parte da Grécia.

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por Orpheo
Kill I
don't care about my heart
Love I
stay there to show me love

Kill I
don't mind, then you can go
Stab I
will die loving you so

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por Orpheo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sem Título, por Charles Bukowski

"Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem comece!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena."