sábado, 4 de abril de 2009

A História de Orfeu

Havia um reino onde existiam dois príncipes e uma princesa. Ambos os príncipes estavam chegando à idade de ir até a sala real de armamentos e escolher uma arma para si. O príncipe mais novo era um discípulo fiel de seu pai, e não via a hora de escolher a sua e ser considerado um guerreiro, ter um futuro brilhante. O mais velho se chamava Orfeu, e apenas deixava o tempo passar, quando finalmente chegou para ele a idade de escolher as suas armas.

Seu pai, bastante animado com a ocasião, começou a mostrar a Orfeu as mais belas e poderosas armas, mas Orfeu não se interessara por nenhuma. Foi tocando nas armas, mas ele sabia que nada o provocava curiosidade, até que ele achou um belo arco, com sua corda extremamente esticada. Seu pai teve esperança de que ele gostasse da arma, mas ao invés de procurar uma flecha e testá-lo, Orfeu puxou suavemente a corda e soltou, percebendo que isso ressoava. Repetiu, ao ponto que parecia uma melodia. Seu pai ficou extremamente decepcionado. Orfeu poderia ter qualquer arma que ele quisesse, ele tinha uma imensidão de oportunidades que seu pai lhe concedera, mas ao invés de pensar em seu futuro, estava ali tocando um arco.

Orfeu andou por várias terras diferentes, tendo já adaptado seu instrumento, que agora tinha várias cordas em tons diferentes, e por onde ele passasse ele tocava e deixava as pessoas encantadas com seu som. Ele salvou vilareijos de feras hipnotizando-as apenas com suas melodias. Até que um dia conheceu Eurídice, que o encantou ainda mais que o arco.

Orfeu e Eurídice... Era tudo perfeito demais. Passeavam nos bosques enquanto Orfeu tocava sua Lira, Eurídice sorria e dançava, seus cabelos compridos esvoaçavam ao vento, seus olhos brilhavam, e Orfeu a amava mais do que a própria vida. Num desses passeios, estavando eles prestes a se casar, Eurídice foi mordida por uma cobra venenosa e faleceu.

Orfeu quase cedeu à loucura, mas decidiu descer até os Infernos atrás de Eurídice. Chegando lá, se dirigiu a Hades, ou Plutão, que concordou deixá-la voltar com ele após ouví-lo tocar. Mas, fora isso, havia uma condição: Enquanto ele estivesse subindo para a superfície, ela estaria indo atrás dele, mas ele não poderia olhar para trás, senão perderia de vez sua amada, sem outra chance.
Orfeu concordou.

Foi sendo conduzido de volta à superfície por um guardião, mas quando estava prestes a chegar, num ato de esquecimento, virou-se para se certificar se sua amada estava ali. No mesmo momento ela evanesceu em sua frente, com um adeus. Orfeu tentou voltar, mas o guardião não o deixou, ele então passou vários dias às portas do Hades chorando e compondo tristes canções, sem comer nem dormir.

Manteve-se alheio às outras mulheres, constantemente entregue à lembrança de seu infortúnio. As donzelas trácias fizeram tudo para seduzí-lo, mas ele as repeliu. Elas o perseguiram enquanto puderam, mas, vendo-o insensível, certo dia, excitada pelos ritos de Dionísio (*Baco*), uma delas exclamou: "Ali está aquele que nos despreza!" e lançou-lhe seu dardo. A arma, mal chegou ao alcance do som da lira de Orfeu, caiu inerme aos seus pés.

O mesmo aconteceu com as pedras que lhe foram atiradas. As mulheres, porém, com sua gritaria, abafaram o som da música e Orfeu foi então atingido e, dentro em pouco, os projéteis estavam manchados de seu sangue. As furiosas mulheres despedaçaram o vate e atiraram sua lira e sua cabeça ao Rio Orfeu, pelo qual desceram ainda tocando e cantando a triste música, à qual as margens do rio respondiam com plangente sinfonia. As Musas ajuntaram os fragmentos do corpo de Orfeu e os enterraram em Limetra, onde, segundo se diz, o rouxinol canta sobre seu túmulo mais suavemente que em qualquer outra parte da Grécia.

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por Orpheo

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